Pequenas corrupções
- Bayer Jovens
- 25 de out. de 2016
- 2 min de leitura
Estudos indicam que as pessoas costumam seguir as regras do grupo, e isso pode incluir a aprovação a desonestidades no dia a dia
Com toda razão, os brasileiros ficaram indignados com as denúncias de casos de corrupção que envolvem políticos e parecem fazer parte de um jogo de interesses sem fim. Mas será que nas coisas do dia a dia somos todos impecáveis e incorruptíveis? Nos atos que parecem ter importância menor, como furar uma fila, colar na prova, dirigir pelo acostamento numa estrada congestionada ou tentar escapar de uma multa, será que também não procuramos tirar vantagem, mesmo sabendo que é errado?

São questões delicadas, de difícil resposta, tanto que os pesquisadores que estudam o tema ficam no meio termo, um pouco em cima do muro, embora concordem que o comportamento do grupo é capaz de influenciar o indivíduo e, às vezes, fazê-lo agir de um modo que não aprovaria no outro. “Somos seres sociais e, quando estamos em um grupo, seguimos as normas estabelecidas pelo grupo”, disse Amos Schurr, psicólogo comportamental da Universidade Ben Gurion, de Israel, em reportagem publicada no siteBBC Capital , em setembro.
Schurr faz parte de uma equipe que estuda o comportamento em grupo. Numa pesquisa que fez recentemente, ele concluiu que a influência de outras pessoas pode tornar a trapaça aceitável, assim como a vitória numa competição é capaz de levar a pessoa a cometer atos desonestos – como o doping que volta e meia mancha algumas modalidades esportivas. Um dos experimentos feitos pelo grupo israelense consistia em observar voluntários que participavam de jogos simulados.
Eles poderiam ganhar dinheiro ao dizer, por exemplos, que os dados deles tinham tirado tal número, mesmo se não fosse verdade. Os pesquisadores concluíram, por exemplo, que quando uma pessoa ganhava uma rodada do jogo, ela era mais desonesta na rodada seguinte, para ganhar mais do que tinha direito.
O jogo de dados também foi utilizado num estudo feito na Universidade de Nottingham, na Inglaterra, por Ori Weiseland e Shaul Shalvi. Os voluntários deveriam atuar em parceria, para ganhar tentar dinheiro. O primeiro jogador lançava o dado e, para ganhar o prêmio, o outro deveria tirar o mesmo número. Os pesquisadores perceberam que as mentiras eram comuns, principalmente quando as duplas dividiam o dinheiro ou tinham uma ligação anterior. Esta foi a conclusão de Weiseland e Shalvi: “A corrupção e a conduta antiética que estão na raiz de escândalos financeiros são provavelmente movidas não só pela ganância, mas também pela tendência do ser humano em cooperar com os amigos, principalmente se os interesses estiverem alinhados”.
Em outras palavras, se um estudante vê um amigo colando numa prova, fica mais propenso a colar também. Mas se quem cola é alguém de quem não gosta, provavelmente vai criticar a atitude. Complicado, sem dúvida, e não é possível afirmar, segundo os especialistas, que a tendência de se envolver em pequenas trapaças seja uma característica do ser humano, nem que hoje a desonestidade esteja mais presente. Cabe a cabe um agir de maneira a não repetir nunca o que critica nos outros, seja um político, seja um colega de classe.
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